quarta-feira, 16 de setembro de 2015

São dois ônibus, um metrô e uma carona. Um dia inteiro de trabalho e uma hora e meia de deslocamento até em casa. Uma hora e meia em que eu olho a escada rolante enorme e vou subindo devagar... já em cima, olho pra lojinha de laricas do outro lado da rua e hoje decido não comer industrializado. 
O Japinha já tá bem feliz e ganhou muito dinheiro durante esses anos em que abriu a lojinha. Acho que devo ter sido uma das suas primeiras freguesas, certeza. Ele já me olha com intimidade, como se me conhecesse. Me conhece há anos, se for pensar. Que fita. 
No Terminal Sacomã, antes de descer pra pegar o ônibus, você passa por umas dez barraquinhas, que não são exatamente barraquinha, são tipo uns foodtruck de podrão, com precin bom. Tamos no Sacomã e não na Vila Madalena.
Colocam o preço de 10 pães de queijo a 2,00, hoje vi uma que tava 1,50... tô viciada nessa porra. Só lembro de tirar dinheiro por causa deles. Mas quando não tiro, também tem um lugar que passa cartão, que a Ruts me apresentou. Lá tem um combinado foda de pão de queijo + chocolate quente (puro açúcar) a 3 conto, ou sejeee... pego meu saquinho, sem o chocolate (porque tá calor) e vou descendo mais uma escada rolante gigante, com vista privilegiada pra fila do meu busão, que é uma das maiores do Terminal. 
Parece que a vida tá te tirando um pouco, depois de um dia de trabalho intenso você desce uma escada rolante enorme e lenta pra porra, parece que essa lentidão é pra ir dramatizando a vida com o tamanho da fila, mesmo. Um dia, no horário de pico, vou ficar no final dela só observando a expressão das pessoas mudar ao sacar suas filas. Às vezes penso em tirar foto pra ostentar a vida de merda, mas acho meio tosco quem faz isso. Tipo postar foto de pulseirinha VIP de hospital. Porquê vocês fazem isso?

Lá em baixo é um cheiro de escapamento de busão intoxicante, que abafa e nos mata uns 10 anos antes, certeza. Mas tudo bem, o ônibus chegou, tô com sorte. A fila tá naquele tamanho limite de eu saber que vou sentada. É, eu sei pelo comprimento da fila, quase que exatamente, se vou sentada ou não. Se passa, vou pra segunda fila, meus vasos zinhos das coxa já estão causando comigo se ficar em pé tanto tempo. 

Desenvolvi uma paciência amorosa pelas situações dali. Pela tiazinha, que vai de um em um na fila, falar as palavras de Deus e sei lá mais o que (ela fala muito baixo e ninguém nunca consegue entender direito), mesmo que às vezes seja completamente ignorada pelos fones. Pelos encontros de desconhecidos íntimos. Pelos encontros de amigos que nunca mais vi e só encontro nesses deslocamentos. Pelas micro-conversas com gente desconhecida na fila que me fazem sorrir. Pelos pombos... não consegui ainda, mas estou trabalhando nisso porque, em todos esses anos, eles nunca cagaram em mim ou em ninguém que eu tenha visto. E um dia vi um filhote de pombo lá, não sabia como era. Grandes conhecimentos da vida! 

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